rascunho 0001
A separação dos corpos: chegaram no quarto do escritor às oito, reviraram tudo por tudo, recolheram os livros mais ameaçadores; o homem de sobretudo que parecia ser ali dono da palavra, possivelmente o comissário, disse, mais lamentando que celebrando: menos um maoista; sem a teoria eles não são Nada. — Quanto tempo mesmo dura aquele filme? — Qual é mesmo, chefe? — Hum. Um francês. Um r. Bresson. — A! então dura para sempre...! ou uma hora e meia, que é a duração comum dos filmes dele, isso. — Mesmo… temos que nos apressar. O escritor estava no cinema; engolido pela projeção, sem saber que em casa suas joias estavam tendo destino excessivamente parecido. Ao que parece o escritor cogita rever o filme, ainda nessa noite, “é para ruminar bem”, mas tem essa ideia em conflito porque lembra de uma citação mais ou menos assim: o filme é como um fósforo, só queima uma vez. Enfim. Nem tudo depende do fogo: o fogo é superestimado, quem sabe, mas é derradeiro, isso ninguém discorda