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Mostrando postagens de dezembro, 2020

fundo, fundo

                              Senhor, antes de mais nada: me avise a respeito de qual mãe terei de matar. De resto: a ordem é irrelevante, irreverente, até. Não quero mais viver dessa maneira, sentindo todas essas coisas. Me lembro que até Garbo sofreu dos incômodos da depressão, e ainda assim: eu não sofro, só finjo que sofro, só fico parado, aqui, com esta postura, intacta, altiva, e conservando-me belo, acabado. Aos fatos, logo eu não sinto nada de relevante. Possivelmente, nem sei o que é amar, nunca amei, nunca senti, não sei meu nome (não tenho!), possivelmente, sou um monstro, provavelmente, menos monstro que ele e, ainda, assim, desejando ter um coração de gelo, um coração, como gelo, pela facilidade, pelas luzes, pelas intimidades, esquecidas, pelo próprio esquecimento etc. Contra a, jogada, do tempo, sua solitude inquisitiva, e contra a ciência, por que se algo é intransável, por natureza, qual seu sentido, afinal, eu não sei.